Carlos do Carmo, Reconhecido Cantor e Fadista de Portugal

Tendo-se conhecimento que o Fado com o seu estilo musical próprio começou inicialmente a ser cantado em tabernas e casas de prostituição e, pese embora, tenha surgido somente no final do século XIX com a designação de ‘Fado’, o mesmo expressa o destino. O fado e as suas letras falam sobre amor, amores perdidos, oportunidades e sonhos perdidos, usando a nostalgia, a melancolia e a tristeza como inspiração. 

Por outro lado, detém o ritmo da guitarra portuguesa, a qual foi introduzida somente mais tarde na história do Fado e que oferece vida às letras. Este contraste é o que o torna tão especial.

E como um reconhecido cantor e fadista de Portugal, Carlos do Carmo, nascido em Lisboa, teve uma das carreiras de maior sucesso de um artista português no fado de Portugal, com a ousadia de acrescentar novos elementos ao Fado e tendo os seus álbuns alcançado os prémios de Ouro e Platina.

Infelizmente, faleceu a 1 de janeiro de 2021.

Mas vamos falar um pouco do grande fadista Carlos do Carmo, da sua bibliografia e da sua despedida.

Carlos do Carlo – Bibliografia

Carlos do Carmo nasceu em Lisboa. É filho de Lucília do Carmo (uma das fadistas femininas mais famosas do século XX) e de Alfredo de Almeida, editor de livros que mais tarde ingressou na hotelaria. 

Pode-se dizer que Carlos do Carmo cresceu num ambiente artístico. A casa dos pais, no antigo bairro do Bairro Alto, foi ponto de encontro de algumas das personalidades mais influentes da cena artística lisboeta. 

Foi em 1963 que Carlos deu início ao que se revelou ser uma das carreiras de maior sucesso de um artista português. Em grande parte, isso aconteceu porque Carlos teve coragem para enfrentar um mundo onde reinavam as cantoras e, por ter a ousadia de acrescentar novos elementos ao Fado, como o contrabaixo ou os arranjos orquestrais, tendo incluído igualmente no seu repertório letras dos mais talentosos poetas e escritores portugueses contemporâneos.

A sua carreira discográfica foi repleta de momentos de sucesso, vários dos seus álbuns alcançaram os prémios de Ouro e Platina e “Um Homem no Pais” foi o primeiro CD lançado por um artista português.

Não se pode dissociar o nome de Carlos dos valores portugueses mais populares e genuínos. A sua voz está carregada de saudade e solidão, mas também de amor, esperança no futuro ou a alegria que se sente nas festas de rua que todos os anos homenageiam Santo António, o padroeiro de Lisboa.

Carlos do Carmo é admirado e estimado pelo seu público não só como um cantor talentoso, mas também como alguém em contacto com as mais nobres causas sociais, um homem profundamente interessado na música do seu país, mas muito consciente do mundo que o rodeia.

Com alguns dos momentos mais altos da sua carreira, apresentou a nível mundial, nomeadamente e entre outros, os seus shows no “Olympia” de Paris, nas Óperas de Frankfurt e Wiesbaden, o Memorial da América Latina em São Paulo e o Teatro Dom Pedro V em Macau. Em 2003 celebrou 40 anos de atividade profissional com um concerto no prestigiado Coliseu dos Recreios de Lisboa.

De 15 de Outubro de 2003 a 15 de fevereiro de 2004 o Museu do Fado acolheu a exposição “Homem no Mundo” em reconhecimento da carreira de Carlos do Carmo, não só como fadista, mas também pelo seu trabalho primordial na promoção da música portuguesa a nível mundial.

Em 2007 foi lançado o álbum “A Noite”: Carlos do Carmo selecionou as músicas de três dos maiores compositores do Fado: Alfredo Marceneiro, Joaquim Campos e Armandinho e poemas de personalidades como Júlio Pomar, Nuno Júdice, Luís Represas e Maria do Rosário Pedreira. 

O álbum foi inicialmente distribuído com o jornal diário e o semanário português com maiores vendas, os cd’s esgotaram-se rapidamente o que levou a Universal Portugal, a editora discográfica de Carlos do Carmo, a fazer uma reprise que se encontrava disponível em todo o país.

Carlos esteve profundamente empenhado na realização de “Fados”, filme do cineasta espanhol Carlos Saura, que se estreou no Festival Internacional de Cinema de Toronto em 2007. Para além da função de consultor, a sua atuação em “Fados” rendeu-lhe o Prémio Goya da Melhor Canção Original pelo “Fado da Saudade”, a canção foi posteriormente incluída na nova edição de “A Noite” juntamente com “Fado Tropical”.

O ano seguinte marcou a celebração dos 45 anos de carreira de Carlos do Carmo. As festividades começaram no dia 3 de outubro com um concerto no Casino do Estoril. Para esta ocasião especial Carlos do Carmo decidiu homenagear alguns dos músicos com quem trabalhou ao longo dos anos: Victorino d’Almeida, António Serrano, José Maria Nóbrega, Joel Pina, José Fontes da Rocha e a Orquestra Sinfonietta de Lisboa foram os próprios convidados especiais da noite.

O segundo ato das comemorações foi o lançamento da primeira compilação “Best of” de Carlos do Carmo “Fado Maestro”. O álbum apresentou canções bem conhecidas, entre as quais:

  • “Por Morrer uma Andorinha”,
  • “Duas Lagrimas de Orvalho”,
  • “Bairro Alto”,
  • “Gaivota”,
  • “Canoas do Tejo”,
  • “Os Putos”,
  • “Lisboa Menina e Moça”.

Por último, mas não menos importante, foi dado um concerto no Pavilhão Atlântico em Lisboa. Na noite de 23 de novembro subiu ao palco da maior casa de espetáculos de Lisboa. Com o intuito de partilhar um dos acontecimentos mais marcantes da sua vida, Carlos do Carmo convidou alguns dos seus artistas preferidos: os fadistas Camané, Mariza e Carminho, o seu filho Gil do Carmo, o pianista Bernardo Sassetti , a cantora espanhola Maria Berasarte e a Orquestra Sinfonietta de Lisboa dirigido pelo Maestro Vasco Pearce de Azevedo . O concerto ficará para sempre na memória das mais de 11.000 pessoas que assistiram a esta noite mágica.

Carlos do Carmo, o ‘Sinatra’ do fado português – a despedida

No ano passado, Carlos do Carmo realizou a sua despedida dos palcos depois de uma longa carreira, a qual transportou o fado a nível mundial. Transformou-se no primeiro artista de Portugal que recebeu o prémio Grammy Latino através do conjunto da sua obra no ano de 2014.

Um dos artistas mais queridos do país, igualmente falado como o “Sinatra” do fado, comovente e melancólico, faleceu com 81 anos, na manhã do dia 1 de janeiro de 2021, no hospital Santa Maria em Lisboa, após sofrer um aneurisma da aorta.

 O fado ‘Saudade’ foi o fado cantado na hora da despedida a Carlos do Carmo.

  • Alguns exemplos de tributos que chegaram de todos os cantos do mundo:
    • A Fundação José Saramago publicou uma declaração do falecido Nobel de Literatura, em que Saramago destacava a ‘elegância moral’ de Carlos do Carmo.
    • A Agence France Presse chamou Carlos do Carmo de “a voz de Lisboa”,
    • A agência Efe de Notícias em Espanha descreveu-o como a ‘voz masculina do Fado’
    • O escritor britânico David Bret twittou: RIP Carlos do Carmo, indiscutivelmente o maior cantor masculino de sempre em Portugal

Notas

Embora o fado tradicional tenha sido o cerne da carreira de Carlos do Carmo, ele trouxe influências de estilos musicais de artistas que vão desde músicos da bossa nova brasileira a Frank Sinatra para dar à forma musical o seu próprio toque, cantando, por vezes, com uma orquestra em vez do tradicional conjunto de apenas um cantor e dois guitarristas.

Levou o fado aos maiores palcos do mundo, do Royal Albert Hall de Londres à Câmara Municipal de Nova York. 

Em 2009, Carlos do Carmo foi escolhido pelo então presidente da Câmara de Lisboa, ao lado da destacada fadista Mariza, para embaixador da candidatura do género musical a património mundial, concedida dois anos depois pela UNESCO.

Referências:
Wikipedia
Museu do Fado

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